29 dezembro 2010

Último post do ano

Com este tótulo auto-explicativo me despeço a este blog. Pelo menos por este ano.

Posso dizer que 2010 foi um bom ano. Minha vida profissional mudou bastante. Na falta de um, dois estágios me sugaram o pouco de energia e juventude que eu desconhecia possuir. Encarei muitas vezes com preguiça, desdém, mas também com garra, coragem, ao menos para aguentar tanta pressão somente até o final do ano. E consegui.

Na área acadêmica, comecei a sentir as garras e o bafo quente de um monstro chamado TCC. Sim, ele me assustou, me fez chorar mais do que qualquer outra matéria (afinal, este ano, pela primeira vez, não fiquei de exame). Mas até este monstro que arreganha os dentes com tanta raiva parece ter se acalmado e twittado: "não sou tão feio assim. Pode chegar perto". Estou mais serena para encará-lo também.

Do ponto e vista musical não deixou por menos. Ver Smashing Pumpkins e chorar com o show mais emocionante da minha vida até o momento não é pouca coisa. Mudhoney (!) e virada cultural integram-se a esta lista, com as devida considerações ao meu companheiro de aventuras e único leitor deste blog. ;)

Amigos merecem um parágrafo à parte. Pessoas capazes de andar até o Ibirapuera mesmo com gripe ou  caolhas, ou que sabem que as vezes um Big Mac pode fazer milagre ou que apenas ficam ao seu lado quando tudo parece desabar, com um olhar sincero e calmo que te dá forças para qualquer coisa. Agradeço 2010 por tais momentos.

Por último, a vida afetiva mostrou-se mais uma vez consolidada, mas não estagnada. A cada dia, surpresas e sentimentos fazem coisas simples entrarem para nosso álbum de recordações. Dois anos com uma pessoa é bastante tempo, e amando tão intensamente parece até milagre.

Enfim, declarações a parte, agradeço por todos os momentos bons e ruins deste ano. Sei o quanto 2011 se mostra instável e inseguro para mim, mas pensando em todos estes sentimentos (muitos deles compartilhados aqui), penso: e porque não? Que venha, mostre-se e acabe com todos os meus medos de "ano-novo". Amém.

24 dezembro 2010

Feliz natal!

13 dezembro 2010

2 Anos

Um poeminha rápido só para deixar a data registrada. Sabe comé, final de ano signigica sem tempo para nada.


Quem não tem namorado
Carlos Drummond de Andrade 

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.


Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uam névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça.

E por 1 hora e meia eu morri

E de repente começa o comercial. Eu estava há horas lá em pé, conhecia aquelas propagandas de cor-e-salteado, mas aquelas tinham um tom especial. Eu sabia que veria Billy. Ao final, o susto: algum idiota filhodaputa rampeiro desgraçado profissional descuidado colocou um trecho do show do Pavement, banda que tocou antes dos Pumpkins, cuja qual Billy havia xingado em entrevistas anteriores. O medo: será que o Billy viu aquilo? Sinceramente, amo aquele careca, mas conheço o temperamento difícil destes artistas. Uma brincadeira daquelas poderia colocar tudo a perder. Os segundos mais longos da minha vida, eles demoravam para entrar.
Mas entraram. Billy está velho e gordo, e isto é muito estranho. Você começa a comprovar que seus ídolos envelhecem. Mas foda-se, eu amo Pumpkins. Confesso que fiquei meio perdida em algumas das músicas novas, as duas primeiras eu não conhecia, mas ele começou a tocar Today e a sensação passou. Mais uma desconhecida e... Ava Adore. Comecei a morrer ali. Esta canção, para quem não conhece, sempre ficou no Top 10 da minha vida e, dentre as "românticas", sempre foi a minha favorita. Ela não se prende ao melodramático, mas ao falar algo como "É você quem eu adoro, você sempre será minha prostituta/Você será a mãe das minhas crianças, e a criança do meu coração", não há declaração mais sincera, mais crua, mais real.
Depois dessa não tinha como ficar melhor. Bullet With Butterfly Wings, Tarantula, Drown, Cherub Rock, Zero e a bela Stand Inside Your Love, em todas elas me descabelei, gritei, chorei. Como eu disse, o efeito das músicas do Smashing Pumpkins é algo que não consigo explicar. Eu já estava cansada, mas curtindo cada segundo, quando Billy e seus amigos pouco introsados começaram a música que segue abaixo. Quem lê este post pode discordar totalmente disto, mas acho esta a letra mais bonita que já vi na minha vida, é de uma doçura deprimida que só os Pumpkins tem. O show acabou ali e, ao terminar esta música, senti que a minha vida antes de ver os Pumpkins ao vivo também. Eu morri naquela noite.



Observações

1) Tocaram A Song for a Son e o baterista solou Moby Dick, e lembrei do @oscar_batista. Valeu pessoa!

2) Ao tocar Ava Adore, sonhei estar ao lado do meu namorado mais maravilhoso, que possibilitou meu relacionamento mais duradouro exatamente por esta relação intensa. Faz dois anos que você é quem eu amo de verdade. :)

 
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