27 julho 2009

Brasil, o país do... vôlei?

Brasil conquista a Liga Mundial de Vôlei Masculino. A notícia presente no cantinho esquerdo dos principais sites jornalísticos gerou comentários que variam de "Conta uma novidade" até muitos "Tá, agora deixa eu ver o jogo do corinthians". Como boa corinthiana, prefiro observar os comentários daqueles que não se surpreendem mais com esta seleção de tantas vitórias e tão pouco reconhecimento.

Desde criança não entendo o motivo da supervalorização do futebol e o descaso com o vôlei. Quando pequenos, ouvimos o discurso sexista que futebol é coisa de menino e vôlei de menina, e qualquer um quebrasse essa "regra" era considerado um gay em potencial, embora eu tenha sido sedentária o suficiente para não praticar nenhum esporte) No meu caso, desde a final em 99, onde a seleção ficou com o Bronze, fui considerada "esquisita" por torcer excessivamente para o vôlei masculino ao mesmo tempo que desprezava o futebol. Quando em 2002 a seleção perdeu para a Rússia na final da Liga Mundial, tive que aguentar muitos comentários maldosos, com uma resposta do tipo "você também é brasileiro, idiota" engasgada na garganta.
Traumas a parte, neste domingo conseguimos o octagésimo título, e o máximo que a imprensa conseguiu dizer é: "parabéns, vocês se igualaram à Itália". Quem achar que se trata de alucinação minha pode confir o ínicio da reportagem da Folha de S. Paulo sobre o título conquistado:

"Fazia um ano e sete meses que o Brasil não via sua seleção masculina de vôlei dando um peixinho conjunto em quadra (...) A seca de títulos... ".

Seca? Em um ano onde só participamos de duas competições, não subir ao pódio pode ser considerado seca? Acredito então que a seleção de futebol esteja na seca de uma copa do mundo. Imagine quantos países se encontram na seca deste tantos torneios por aí.
Meu problema com a imprensa é que, neste caso, nem o Grupo Uol nem a Globo tiveram atenção quanto a esta final, onde não editaram nem mesmo as aspas dos entrevistados. Todos deram mais destaque ao clássico Corinthians e Palmeiras. No caso do Estado de S. Paulo, o jornal até se esforçou em fazer uma retrospectiva de vitórias da seleção no site, talvez para justificar a porque da conquista do título não ter espaço na página inicial do jornal impresso.
Quando leio estas reportagens, parece que ainda ouço aqueles menininhos da oitava dizendo que ainda preferem o futebol que é pentacampeão de um campeonato que acontece de 4 em 4 anos e etc. O fato de termos 14 medalhas durante estes 19 anos de torneio (mais do que a própria Itália) não foi mencionado nenhuma vez, e as reportagens mais repentem a mesma cobrança e culpa de 2008. Ainda me lembro da voz de Galvão Bueno que parecia vibrar com a derrota culpando o time, chamando-o de fraco e despreparado para uma competição. Tudo bem, a opinião de Bueno não é referência, mas foi esse sentimento de decepção que a mídia disseminou.
É claro que a cobertura da imprensa na vitória também incita o espírito nacionalista brasileiro. Foram ressaltados pontos importantes como o jogo ter sido fora de casa, em um momento de transição de jogadores, surgindo uma nova seleção com novas experiências, afinidades e expectativas. Porém fica a pergunta: caso estes "novatos" tivessem perdido, esse argumento seria válido? Por que às 15h30 a notícia já não está em primeira página?
Enfim, mesmo sem reconhecimento o vôlei consegue se superar a cada ano. O importante neste esporte é o entrosamento, e não interessa se temos um fenômeno ou algum jogador que ganha 65 milhões de euros. Bernardinho não será demitido se perder uma Liga ou uma Copa. Para estar nessa seleção é necessário ter raça. Virar um jogo e ganhar fora de casa no Tie break (para os leigos, é como disputa nos pênaltis). Se daqui a alguns anos o Brasil não for só o país do futebol e sim de muitos outros esportes, tenho certeza que estaremos no pódio. Enquanto isso, fica aqui minha torcida e os meus parabéns.

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