05 abril 2010

Semana de homenagens

Órfão de si

O piso era de liso, encerado. No chão, toalhas, vestígios de heroína em uma seringa descartável usada, uma caixa de cigarros Camel Light com poucas unidades. Havia também um corpo pálido, frio, vestido com uma camiseta da banda Half Japanese e calças Levi's, que mais parecia um manequim se não fosse todo o sangue que saía da orelha. O cabelo era uma fusão de loiro desbotado e vermelho vinho, o odor de cerveja derramada ao longo do piso com algo em decomposição pairava, e um rifle ao longo do corpo apontava para um queixo. Aquele rosto desfigurado, que antes o mundo venerava como um dos maiores cantores da história do rock, seria irreconhecível caso a perícia não o identificasse através das digitais.

Um triste, autodestrutivo e mórbido roqueiro. Este era Kurt Cobain, líder de uma das bandas mais influentes dos anos 90, o Nirvana. Treze dias depois de seu desaparecimento da clínica de reabilitação em que estava internado, o corpo de Kurt Donald Cobain foi encontrado no quarto de sua mansão em Seattle. Mesmo com a relação do vocalista com as drogas e suas letras melancólicas, foi um choque para o mundo quando as rádios anunciaram o suicídio, em 8 de abril de 1994.

Com a morte do vocalista, o Nirvana também acabava naquele típico dia nublado de Seattle. Entretanto, não há como negar a influência da banda em todo o cenário musical da época. Era um homenzinho ranzinza, que ao lado do baixista de 2 metros de altura parecia muito menor que seu tamanho de 1,70m. Sua voz rouca ecoa até hoje como a mais conhecida no movimento grunge, que surgia entre os adolescentes e que está presente até hoje em barzinhos e rádios de todo o mundo.

Hoje, após 16 anos de seu suicídio, pouco se fala daquele homem que não procurava status ou dinheiro, mas ser compreendido em toda sua complexidade. Por trás de seus olhos azuis-celeste que mais pareciam duas bolas de gude, havia um homem que amava e desprezava tudo à sua volta, e que encontrava na morte um refúgio de todas as suas dores. Na mesma semana de seu suicídio, 68 jovens também seguiram pelo mesmo raciocínio, comentendo atos contra a vida. Seu poder ideológico depois de morto é tão significante que em 2006 foi o artista de maior lucro em sua obra depois de morto.

Sejam elas boas ou ruins, as mensagens de Kurt Cobain sempre estarão presentes quando falamos da história do rock. Em abril de 94 perde-se outro grande gênio da música em função das drogas. A morte vence mais uma vez.

*Baseado no livro "Heavier than Heaven", biografia de Kurt Cobain

1 Reações:

Anônimo disse...

Muito bom

 
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