01 julho 2010

Exercitando meu estilo literário

Giovana sentou, olhou, pensou, murmurou, chorou, e depois sorriu baixinho. O que seus quinze anos diriam a nós se descobrissem que nada funcionou? Na cama do hotel, de colchões e mantos que quase engoliam o quarto, não se conformava com o fato de que nunca fora feliz. Chorou. Sentia que alguma coisa estava errada, mas nunca conseguiu descobrir por que a alegria a rejeitou. A viagem para os Estados Unidos e França e Espanha e Japão e Butão e outros países que tivessem a felicidade como lei, de nada adiantaram. Nascera para ser infeliz, constatou.

Sorriu baixinho porque o televisor estava ligado. No telejornal, uma moça de cabelos negros avermelhados anunciava que um projeto talvez fosse aprovado, um grupo de pessoas queriam que a felicidade fosse um dever do Estado. Seria o fim de seus problemas, de suas dúvidas, de seus dilemas, de sua morte? A janela aberta revelava um dia acinzentado, calado, molhado. Pecando contra sua própria natureza, por um momento morte não era um resultado. A felicidade. Há felicidade. A Esperança havia retornado.

Giovana decidiu então  mudar na vida. Se jogar por inteiro em uma alegria tão superior e suprema que sua satisfação seria suficiente para sair do sofrimento. Pretendia sair e beber e dançar e cantar e curtir e ficar com qualquer pessoa que lhe oferecesse cinco segundos de diversão. O importante não era o quem ou o aonde, mas que colocasse fim nas minhas feridas dentro dela, tonando-se livre de qualquer violência. Correria cuidadosamente para fora hotel, com qualquer estranho que tivesse um carro veloz.

Mas então abriu a porta e seu pai lhe esperava sem calças, sem alegria, sem pudor, sem alma. Sabia que não era Giovana, nem Ana, nem Fernanda, nem Santa... era Lolita. Seus olhos de lágrimas latentes e lúbricas lamearam-se de repente, entre a maquiagem pesada e os cílios negros, formando um rio que percorria seu rosto. As feridas se abriram, como outras partes de um corpo que já não se encontravam em seu poder. Nem o PEC da felicidade nem o Artigo 172.º do Código Penal poderiam salvá-la da escravidão, da servidão, da aberração e solidão. Seu pai estava dentro dela e isto era tudo.



*Texto escrito para a matéria de Técnicas de Redação I da Faculdade Cásper Líbero.

2 Reações:

Oscar disse...

tenso...muito tenso..rs..porém belo,muito belo...Parabéns pessoa,dessa vez vc arregaçou,literariamente falando..^^

bjos

Carol disse...

Sei que estou um pouco atrasada pra comentar nesse post, mas não poderia deixar de falar...PArabéns Fe, muito bom esse texto! Como disse o Oscar ai em cima, arregaçou!rs
Bjinhos

 
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