22 fevereiro 2011

Laranjas e adolescência

O ano é 1971. No início de uma década  posteriormente chamada de “os anos da ressaca” é lançado “Laranja Mecânica” [original The Clockwork Orange], do diretor Stanley Kubrick. O filme, elaborado a partir do livro de Anthony Burguess em 1962, é uma brilhante combinação entre sentimentos, cores e sons, além de servir de inspiração e reflexão à juventude da época.

Para entender melhor o sucesso de Laranja Mecânica, é necessário entender seu contexto. Estamos no final da década de 60, e o sonho já havia acabado. Milhares de pessoas marcham contra a guerra do Vietnã, o rompimento com o tradicional [a contracultura], uma sociedade imersa pelo consumo, a invasão da publicidade e toda a propaganda ideológica da Guerra Fria e o desemprego adquirem uma nova concepção para uma juventude que preocupa uma solução simples e rápida a todos estes problemas.

O filme começa com o rosto do personagem principal, Alex, usando suas vestimentas clássicas que serviriam de inspiração para tantos outros jovens e grupos (em especial os punks), sendo ele quem conduzirá toda a narração da trama. O cenário é uma Inglaterra futurista, onde móveis exibem suas cores e formas exuberantes. Inicialmente, Alex e seus companheiros estão sentados e um bar surrealista. A partir das primeiras cenas já é possível observar a abordagem mais marcante de Laranja Mecânica: a violência. Durante todo o filme, Alex e sua gangue roubam, estupram e agridem gratuitamente civis, que variam de mendigos à civis. Através dos olhos de Alex, somos introduzidos àquela realidade distorcida, à agressão prazerosa. Esta violência urbana reafirma o quanto o filme relata sua época de diversos roubos na antiga Inglaterra, e ainda assim o roteiro continua atual.

A gangue é outro elemento importante que busca suprir a esses jovens a busca de pessoas semelhantes, obedecendo sempre a uma hierarquia, além de encontrar seu lugar no mundoatravés de um grupo. Participar de um grupo transmite o sentimento de participação, irmandade, respeito e lealdade, e essa ideologia foi um dos maiores heranças deixadas pelo filme. Alex era o líder de seus droogs, mas, devido a um desentendimento entre os membros do grupo, perdeu o controle da situação e vai parar na cadeia por isso. A medida em que eles se divertem através da ultra-violência, Alex tenta transmitir de que nunca será corrigido ou pego e sua mensagem se fortalece entre os jovens por se opor ao autoritarismo, o consumismo excessivo e o trabalho alienado, todos esses sinais aproximam mais Alex da realidade dos jovens ingleses.

O filme aborda ainda o poder e a violência do Estado, institucionalizado, amparado pela Lei e justificada pela desculpa da manutenção do controle da sociedade. Alex é utilizado como objeto de manipulação por interesses políticos que o transformam em exemplo bem sucedido de reabilitação. A propaganda estava em seu auge. No final (que não direi óbviamente), ressalta ainda o poder da imprensa, que transformou Alex em vítima. De certa forma, todos este pensamentos forma questões filosóficas, em relação no pensar na vida e de como conseguimos lidar com ela em uma das fases tão complicadas e opositoras que é a adolescência do homem.
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Atividade realizada em 2008 para a disciplina de Filosofia. Assistindo o filme pela enésima vez, pensei: Por que não postar neste meu blog tão abandonado? Prometo que, quando tiver tempo, posto alguma coisa sobre Cisne Negro, minha nova paixão cinematográfica.

2 Reações:

Oscar disse...

engraçado é q se pensarmos bem,esse cenário de loucura e ultra-violencia retratado no filme se assemelha muito com o q vivemos hoje..rsrs..

belo texto pessoa,e só demorei pra comentar por pura falta de tempo..rsrs

bjosss

Cecilia Nery disse...

Fernanda, assisti "Laranja Mecânica" e considero um dos melhores filmes que já vi. É um tapa na cara da sociedade. Quanto a Cisne Negro, ainda não vi, mas adoraria saber suas impressões. Não deixe de escrever, seu blog é muito bom. Beijos!

 
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