06 agosto 2009

Sobre um garoto

"cause everybody cries
and everybody hurts, sometimes ..." R.E.M
Sempre foi difícil para qualquer fã de Nirvana explicar que a admiração por Kurt Cobain vai além de um rostinho bonito ou de revolta adolescente. O filme Kurt Cobain: About a Son, em cartaz no HSBC Belas Artes, traduz exatamente este sentimento: é uma viagem pela mente transtornada e misteriosa de Kurt Cobain, através de entrevistas realizadas durante os anos de 92 e 93 pelo jornalista Michel Azerrad. Ao todo, o que seriam mais de 25 horas de diálogos com o cantor se transformam em um brilhante documentário, onde Cobain expõe o lado humano do rockstar e relata sobre infância, família, fama e consumo de drogas.
De início, a idéia de um documentário de 96 minutos sem imagens do ídolo é, no mínimo, arriscada. Entretanto, o diretor AJ Schnack consegue prender o público por imagens que vão traçando a trajetória de Cobain através de cidades e personagens, tendo como ponto de partida a pequena cidade madeireira de Aberdeen, cidade natal do cantor, seguindo até Seattle, berço do estilo "grunge" dos anos 90.
A trilha sonora do filme também surpreende por não conter uma única música do Nirvana, mas não perde sua excelência pois traduzir a influência musical de Cobain e do Nirvana. É possível viajar através de décadas com Queen, Iggy Pop, David Bowie, Ben Gibbard, Melvins, Vaselines e Mudhoney dentre outras.
Kurt Cobain: About a Son é um filme para fãs de música, um dos melhores documentários do gênero dos últimos tempos. Para quem já leu Heavier than Heaven, a biografia completa do músico, sabe que muitas das coisas que ele diz em entrevistas é mentira. O artista afirmava que os jornalistas são as pessoas mais cruéis e desumanas da face da terra, e que seu status de ídolo não dá o direito para 'todos saberem tudo' sobre ele. Este desabafo não era por menos, uma vez que imagem do cantor na imprensa era do rockstar deprimido e triste, que lutou muito pela fama mas que perde a sua magia quando esta mesma fama, junto com as drogas, destrói sua vida pessoal.
O documentário termina com um pedido de Courtney Love a Kurt para trazer-lhe a mamadeira da filha, Frances Cobain, um dos momentos mais ternos de todo o documentário. Durante as entrevistas o cantor se mostra um homem apaixonado pela família, incapaz de cometer o suicídio, ainda que o documentário não levante nenhuma teoria conspiratória sobre um suposto assassinato.
Como fã, aconselho àqueles que gostam de entender como pensava Kurt Cobain. Como "quase jornalista", aconselho como um excelente trabalho de edição e fotografia. Uma das poucas homenagens dignas.

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