03 dezembro 2009

A rosa de Hiroshima, a rosa radioativa

Como descrever a tragédia que deixou mais de 140 mil mortos e que até hoje é uma vergonha para a humanidade? O livro Hiroshima, de John Hersey, responde com um retrato preciso e marcante de uma das tragédias mais comoventes do século XX. Entretanto, quem espera encontrar no livro algo melodramático digno de hollywood ficará decepicionado. Com um relato fiel de seis sobreviventes da bomba atômica – um pastor, um padre, uma secretária, dois médicos e uma viúva- Hersey mostra hábitos de pessoas comuns, cuja banalidade do cotidiano foi substituída por uma luta pela sobrevivência. Mais do que um relato sobre a bomba, Hersey fala sobre humanidade, sem precisar contar nada mais do que fatos.

Hiroshima marcou a história como um dos primeiros trabalhos do gênero conhecido como “novo jornalismo” ou “jornalismo literário”. Com esse estilo jornalístico, o autor faz com que a reportagem, de tão extraordinária e completa, se torne muito mais parecida com uma ficção. O leitor viaja até 1945 através de uma apuração consistente, acompanhando junto às personagens todo o sofrimento de um povo através de dados oficiais e não-oficiais, de um trabalho que não é baseado na dor e na morte, mas na luta pela vida em um texto enxuto e direto. Hersey simplesmente anotava tudo que ouvia e via, e por meio da história dos seis sobreviventes, publicou um ano depois a reconstrução do inferno por baixo do cogumelo radioativo.

Com o sucesso da publicação no The New Yorker, John Hersey voltou à Hiroshima quarenta anos depois, concluindo o último capítulo dos hibakushas – como eram chamadas as pessoas atingidas pelos efeitos da bomba. Após a tragédia, estas vítimas passaram a sofrer não só com os efeitos econômicos e fisiológicos que a bomba lhe deixara, mas também com o preconceito do governo e da sociedade.

Após a explosão da bomba atômica era como se todos quisessem esquecer o que aconteceu e começar de novo, mesmo que isso fosse impossível. Até hoje não se tem com precisão quantos foram os mortos, quantos os feridos, mas Hersey dá voz àqueles seis cuja a vida foi moldada após o acidente, seja através do pastor que seguiu a vida palestrando e lutando contra novos teste de bombas nucleares, seja apenas como uma lembrança triste do dia 6 de agosto de 1945.

A visão ocidental das dimensões do que aconteceu nas cidades de Hiroshima e de Nagazaki até hoje é muito vaga, e, de tão triste, parece esconder-se, evita-se comentar. Hiroshima vem para preencher essa lacuna, tranformando dados em algo de fácil acesso, ensinando e entretendo, e, mais que tudo, incentivando a reflexão. Quando a reportagem se aproxima da arte.


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Trabalhos da Faculdade: sempre gratificantes.

1 Reações:

Oscar disse...

"Quando a reportagem se aproxima da arte.."
Ou quando a vida se aproxima da ficção né.E ainda temos que aturar o ahmadinejad (não lembro a grafia dessa joça) dizendo que não houve holocausto.São por atitudes assim qus os seres humanos me enojam as vezes.Belo livro,se ele for teu,eu exijo ele emprestado..=D

bjo pessoa,belo texto

 
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